domingo, 6 de março de 2011

LAVOURA ARCAICA: JUNÇÃO DE AMOR E PECADO


Tendo com base que a literatura é a palavra e o cinema é imagem, figurino, fotografia, não podemos esquecer que ambas são linguagens intercaladas e estão visivelmente presentes em nosso cotidiano, pois facilitam nossa compreensão e interpretação e a partir de cada uma delas desenvolvemos nosso senso crítico e reflexivo com relação à sociedade em que estamos inseridos.

O livro Lavoura Arcaica é uma narrativa subjetiva, que tem André como personagem principal. Sendo ele filho do meio de uma família de camponeses, um adolescente que sempre fora criado na fazenda sob um duro modelo educativo passado por seu pai, o chefe do modelo familiar.

É impressionante a semelhança que há entre o livro e o filme. Na verdade ambos conseguem manter uma ligação muito forte, facilitando a compreensão de quem os apreciam. A história é fantástica, porém deixam no ar algumas interrogações, principalmente em relação ao jeito diferente em que André se relaciona com os membros da família. 

Diante de tudo isso, percebemos o quanto a literatura serve de instrumento para o mundo ficcional e notamos que podemos usá-la como meio para inserirmos neste mundo, pois ao ler uma obra nos sentimos membro dela e passamos a entender acontecimentos em nossa vida a partir de fatos lidos ou assistido por meio das obras literárias.
Equipe: Ângela; Catiane; Edilaine; Joseni; Sueli

sexta-feira, 4 de março de 2011

O AMOR MATERNO INDUZINDO A PERDIÇÃO



A relação entre André e sua mãe, é algo muito suspeito a ser observada no decorrer da trama. É perceptível a forma diferenciada com que ela trata André desde a sua infância.
E tal sentimento fica confuso tanto para o leitor, quanto para o telespectador, a maneira que a mãe comporta com André. Isso fica visível a partir da postura, como ela o toca, beija, fala, protege, o acordar pela manhã sendo assim, vejamos o seguinte trecho:
“... com a memória molhada só lembrei dela me arrancando da cama” vem, coração, comigo” e me arrastando com ela pra cozinha e me segurando pela mão junto da mesa e comprimindo as pontas do dedo da outra mão contra o fundo de uma travessa, não era no garfo era entre as pontas do dedo grossos que ela apanhava o bocado de comida pra me levar à boca” é assim que se alimenta um cordeiro” ela me dizia sempre...” (NASSAR, 1989, p.36).

Mais uma vez André vem confirmar o desejo pela mãe, parece estar lamentando o que não aconteceu entre eles:

“... quando fui procurar por ela , eu quis dizer assenhora se despede de mim agora sem me conhecer, e me ocorreu que eu pudesse também dizer não aconteceu mais do que eu ter sido aninhado na palha do teu útero por nove meses e ter recebido por muitos anos o toque doce das tuas mãos e da tua boca; eu quis dizer é por isso que deixo a casa, por isso é que parto, quantas coisas, Pedro, eu não poderia dizer pra mãe, mas meus olhos naquele momento não podiam recusar as palmas prudentes de velhos artesãos...”(NASSAR,1989, p.64-65)

Antes de buscar André, Pedro comunica a sua mãe a respeito de sua viagem e promete trazê-lo, dessa forma ele tenta amenizar a dor de sua mãe que há tanto tempo vinha sofrendo com saudades de seu filho amado. Ela fica toda animada e fala para Pedro que iria preparar o pão que André gostava, e como expressão de carinho “ ela disse me apertando como se te apertasse, André” (NASSAR, 1989,p.36). e André fica feliz com tal notícia.
Vale ressaltar que Lavoura Arcaica é uma obra cheia de enigmas, dessa forma cabe ao leitor e telespectador analisá-las segundo a sua visão. A interpretação é individual, na verdade esse é o objetivo da obra literária suscitar novos olhares.




Equipe: Carla Taís, Edna Pereira, Raylene Lima, Thaís Maiara.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

ANA: O COMBUSTÍVEL DO DESEJO




Uma das personagens muito importante no enredo da obra (tanto no livro, quanto no filme) é Ana, a perdição de André.
Esta é apresentada aos leitores numa dança, em que André  olha com olhos ardentes para sua irmã, vê-se isso perfeitamente no filme também, neste momento filme e livro são bem parecidos. A imagem de Ana, branca, clara, e no filme o próprio personagem André fala “Branco, branco” em relação à Ana.
Ana aparece sempre sem uma palavra, em dois momentos a personagem de Ana dança, com a diferença de que na segunda vez, ela apresenta-se não tão pura e nem com vestes brancas, confunde-se e mistura-se o profano e o sagrado, está coberta dos adereços das prostitutas trazidos por André, no livro Nassar descreve com riqueza de detalhes sua dança:
(...) e magnetizando a todos, ela roubou de repente o lenço branco do bolso de um dos moços, desfraldando-o com a mão erguida em cima da cabeça enquanto serpenteava o corpo, ela sabia fazer as coisas, essa minha irmã, esconder primeiro bem escondido sob a língua sua peçonha e logo morder o cacho de uva que pendia em bagos túmidos de saliva enquanto dançava no centro de todos, fazendo a vida mais turbulenta, tumultuando dores, arrancando gritos de exaltação (...). (p. 189)

No filme, Carvalho faz um jogo de cenas em que as câmeras seguem a dança de Ana e mostra André a olhar-lhe e deseja loucamente enfiar os pés na terra, todos ficam confusos olhando para Ana e a câmera gira num movimento que deixa quem assiste tão atordoado quanto os personagens.
As imagens, a luz, mas principalmente o som, dá a cena um aspecto de inconstância e os espectadores ou leitores, perdem-se e encontram-se na cena repentinamente.
Esta cena é o final do livro, deixa os expectadores, um pouco confusos, o já que em meio a louca dança de Ana, seu pai surge revoltado e mata-a. E a família construída entre as más dosagens de amor e religião se desconstrói.  Assim, “Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade (...) suas relações recíprocas.” (Manifesto Comunista) Karl Marx.




segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

CURIOSIDADES DA MPB - BOSSA NOVA

No livro da assessora de imprensa de vários artistas da MPB Gilda Mattoso há uma passagem interessante sobre o poeta, diplomata, compositor e um dos criadores da bossa nova Vinícius de Moraes sobre uma de suas apresentações em Montevidéu:

“Mas o melhor lance ocorreu quando ele fazia um show com Maria Creuza e Toquinho em Montevidéu. Ele possuía, também no Uruguai um fã-clube respeitável.
Em boa parte do show ele ficava sentado em frente à sua mesinha, com seu uisquinho, seu cigarrinho, seu gelinho. Ele amava os diminutivos. Mas não gostava que o chamassem de “poetinha” e costumava dizer que esse apelido lhe teria sido dado por algum marido cuja mulher ele traçara...
Lá pelo final do show, Maria Creuza cantava “Eu sei que vou te amar” (dele e de Tom), enquanto ele recitava o “soneto da fidelidade”. Mandava o roteiro do espetáculo que, perto do final deste número, ele se levantasse, se aproximasse de Maria Creuza, enlaçasse-a e cantasse com ela o final da música.
Por ter ficado muito tempo sentado, o cinto cedeu, talvez por conta da barriguinha, e, ao se levantar dar um passo para o lado e alçar o braço para abraçar Maria Creuza, a calça escorregou-lhe pelas pernas abaixo, até os tornozelos. Agravante: Vinícius não tinha o hábito de usar cuecas. ”

Mattoso, Gilda. Assessora de encrenca. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006

P.S. – Gilda Mattoso além de assessora de imprensa foi a nona e última esposa do Vinícius de Moraes.





domingo, 9 de janeiro de 2011

Alguns exemplos de Paródia e Paráfrase

PROPOSIÇÕES

meus oito anos (cassimiro de Abreu)-original
Oh ! Que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras,
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!

Meus oito anos (Oswald de Andrade)- PARÓDIA

Oh que saudades que eu tenho
Da aurora de minha vida
Das horas
De minha infância
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da Rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais.

Eu tinha doces visões
Da cocaína da infância
Nos banhos de astro-rei
Do quintal de minha ânsia
A cidade progredia
Em roda de minha casa
Que os anos não trazem mais

Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais.


Meus oito anos-Paráfrase

Falta que me faz

O apogeu de minha história

Meus anos de glória

Que já nao posso viver



Lembro sonhos, amores e o céu

Meus sábados saudosos

Minhas bonecas no colo


Cantando, na chuva, canções de ninar



Que ensolarada era a tarde

Aos meus oito anos de idade

Em que pela primeira vez

Te amei, mais que perfume em flor



O lago projetado

Meramente humano

Desengonçado

Mas doce de se lembrar



Que paz, aroma e surpresa

Com melodia serena

Vem tu da natureza

Implorando para ficar



Beijar era distante e distinto

Do nosso dia corrido

De aveuntura sedento

Sob sol ou luar



Ó dama que é da noite

Primavera em suas flores

Os platonicos e já sem face

Em teu perfume lembraste



Em vez da falta de agora

Tinha em minha frente delícia

Na mente nenhuma malícia

E as lembranças de meus avós



Filha liberta da fazenda

Não quietava só

Menos ainda serena

Corria nos limoeiros

Faceiros

Vento no rosto, pé no chão

De cada dia era meu pão



Quartos em breu os nossos

Fantasmas saudosos

Choravam ditosos

Pelos seus oito anos de idade



Orava à mãe Iemanjá

Longe nas águas do mar

Que para sempre me alimentasse

De motivos pra cantar



Falta que me faz

O apogeu de minha história

Meus anos de glória

Que já nao posso viver



Lembro sonhos, amores e o céu

Naqueles sábados saudosos

Com minhas bonecas no colo

Cantando, na chuva, canções de ninar


(Jéssica Heusi)


Fonte bibliográfica:
CEREJA, William R.,MAGALHÃES, Thereza C. Português Linguagens. São Paulo: Atual, 2003.

EQUIPE: ÂNGELA, CATIANE, JOSENI E SUELI.