segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

ANA: O COMBUSTÍVEL DO DESEJO




Uma das personagens muito importante no enredo da obra (tanto no livro, quanto no filme) é Ana, a perdição de André.
Esta é apresentada aos leitores numa dança, em que André  olha com olhos ardentes para sua irmã, vê-se isso perfeitamente no filme também, neste momento filme e livro são bem parecidos. A imagem de Ana, branca, clara, e no filme o próprio personagem André fala “Branco, branco” em relação à Ana.
Ana aparece sempre sem uma palavra, em dois momentos a personagem de Ana dança, com a diferença de que na segunda vez, ela apresenta-se não tão pura e nem com vestes brancas, confunde-se e mistura-se o profano e o sagrado, está coberta dos adereços das prostitutas trazidos por André, no livro Nassar descreve com riqueza de detalhes sua dança:
(...) e magnetizando a todos, ela roubou de repente o lenço branco do bolso de um dos moços, desfraldando-o com a mão erguida em cima da cabeça enquanto serpenteava o corpo, ela sabia fazer as coisas, essa minha irmã, esconder primeiro bem escondido sob a língua sua peçonha e logo morder o cacho de uva que pendia em bagos túmidos de saliva enquanto dançava no centro de todos, fazendo a vida mais turbulenta, tumultuando dores, arrancando gritos de exaltação (...). (p. 189)

No filme, Carvalho faz um jogo de cenas em que as câmeras seguem a dança de Ana e mostra André a olhar-lhe e deseja loucamente enfiar os pés na terra, todos ficam confusos olhando para Ana e a câmera gira num movimento que deixa quem assiste tão atordoado quanto os personagens.
As imagens, a luz, mas principalmente o som, dá a cena um aspecto de inconstância e os espectadores ou leitores, perdem-se e encontram-se na cena repentinamente.
Esta cena é o final do livro, deixa os expectadores, um pouco confusos, o já que em meio a louca dança de Ana, seu pai surge revoltado e mata-a. E a família construída entre as más dosagens de amor e religião se desconstrói.  Assim, “Tudo o que era sólido se desmancha no ar, tudo o que era sagrado é profanado, e as pessoas são finalmente forçadas a encarar com serenidade (...) suas relações recíprocas.” (Manifesto Comunista) Karl Marx.